Acordei de repente e já era noite. O relógio marcava 21h e a escuridão reinava naquele quarto, onde tudo era tão surreal. O jet lag ainda me afetava, mesmo após três dias, e o calor escaldante judiava de meu corpo cansado, transformando-o numa mina de suor.
Levantei-me do úmido emaranhado de lençóis que cobriam a imensa cama onde passara as últimas quatro horas, e, descalça, fui até a porta. Lá fora, a luminosidade contrastava com a escuridão do cômodo, dando ao ambiente uma incrível sensação de fantasia.
Caminhei pelos corredores impregnados de antiga arquitetura romana - dos tempos em que os ludus eram governados pelos dominus - e por entre os pilares iluminados pela lua, que rodeavam o arcaico reservatório de água, o avistei observando a fogueira ao ar livre, naquele momento, cercada pelos outros visitantes daquele esplêndido lugar.
Sua expressão era como sempre, fechada, servindo como um aviso de “não se aproxime” para qualquer tentativa de contato; seu corpo, rígido e definido dava a impressão de que era um dos extintos gladiadores que, há muito, ali foram treinados.
Parei, e inconscientemente por longos segundos o contemplei. Tudo nele era convidativo, sua forma, sua postura, sua essência. Meu corpo já não suava por calor, e sim por vontade, necessidade...
Perdi o controle de minhas ações, pois sem que me desse conta caminhava em sua direção. Minha longa saia agarrou-se em minhas pernas, transformando meus desleixados passos em delicados movimentos sensuais, e, sem que qualquer um de nós percebesse, eu estava lá, ao seu lado, segurando seu queixo com uma das mãos e entrelaçando meus lábios nos dele.
Naquele momento, entre um ou dois fogos de artifício que explodiam em minha cabeça, esperava que ele, há qualquer segundo, se desvencilhasse de meu toque. Contrariando as leis do destino, me surpreendi ao sentir suas mãos me cercando em um abraço inesperado, passeando, timidamente, pelas minhas costas, vez ou outra encontrando pele desnuda, arrepiando-me em desejo.
O beijo, cada vez mais intenso, levava minha mente a lugares inimagináveis, fazendo-me delirar. Descolei a saia levantando-a até os joelhos, enquanto sentia suas mãos descendo até a parte detrás de minhas coxas. Suspirei.
Entrelacei meus dedos em seus cabelos quando ele me pegou no colo, ficando entre minhas pernas, empurrando-me, em seguida, até a parede mais próxima. Gemi com o leve impacto, fazendo-o perder o fôlego.
Seus insaciáveis lábios trilhavam uma tênue linha entre minha boca e meu pescoço, tirando-me o ar sempre que esse caminho se completava. Algumas vezes, era capaz de sentir sua pesada respiração em meu ouvido, satisfazendo-me ainda mais.
Me prendendo entre ele a parede, segurava-me apenas com uma das mãos, enquanto, com a outra, afastava meus cabelos do ombro, espalhando delirantes beijos por toda área.
A temperatura aumentava sem parar, pois nossos corpos chocavam-se um contra o outro, numa deliciosa coreografia, formando, por debaixo de sua camiseta, gotículas de suor que, ao escorrerem até a cintura, eram esmagadas por minhas mãos. Ondas de calor como pequenos choques elétricos me faziam tremer de desejo, enquanto, em devaneio, ainda enlouquecia com seu toque.
Apenas na metade do caminho, percebi que ele me carregava para algum lugar, dirigindo-se impecavelmente, por entre o labirinto de corredores, a uma das imensas portas de madeira maciça, em momento algum interrompendo seus beijos.
Atravessamos a porta e, novamente, me vi naquele quarto, onde há pouco sonhava com este momento, onde há pouco sonhara com ele.
Virando-me, me encostou outra vez contra a parede, girando a chave na fechadura da porta ao lado até ouvir o “click”. Ele percorria minhas coxas com as mãos, enquanto ainda me segurava por elas, fazendo-me apertar ainda mais os olhos, fechados desde o primeiro toque. O calor naquele escuro e fechado quarto era ainda mais intenso. Forcei uma das pernas para baixo e, então ele, delicadamente, me pôs no chão.
Entre um beijo e outro, tomava fôlego, tendo o cuidado de me lembrar como respirava. Suas mãos me seguravam pela cintura, algumas vezes acariciando minhas costas suadas, fazendo-me tremer de vontade. Abracei seu largo tronco subindo e descendo a linha curva de sua coluna com as pontas dos dedos.
Suavemente fui sendo preenchida de beijos do queixo aos ombros. Senti, novamente, aquela onda de calor que, dessa vez, subiu pelos meus braços, guiando-os cegamente por um caminho proibido. Coloquei as mãos em seu quadril, onde se encontrava a barra de sua camiseta, puxando-a, delicadamente, para cima. Parei de respirar.
Mesmo com a pouca luminosidade, era possível enxergar os traços perfeitos de seu peito, decorado com algumas cicatrizes de um passado negro. Deixei a camiseta escapar por minhas mãos quando acariciei sua clavícula, descendo apenas um pouquinho para sentir seu coração acelerado. Seus movimentos tornaram-se ainda mais urgentes e sua boca mais insaciável quando ele me girou. Às minhas costas ele beijava meu pescoço enquanto segurava meus cabelos com uma das mãos. Com a outra, subia minha blusa, trilhando com o dedo, um caminho sobre minha pele, passando por meu umbigo e, logo depois, por entre meus seios. Eu segurava sua cabeça por sobre meus ombros, enquanto ele mordia minha orelha, aumentando ainda mais meu desejo.
Virei-me para ele, que se ajoelhava a minha frente, puxando para cima minha saia e mordendo levemente minha coxa. Coloquei minhas mãos em seus ombros, apertando-os a cada deliciosa mordiscada. Ele então guiou a peça por minhas pernas, rumo ao chão. Logo após, levantou-se beijando cada parte de meu corpo durante o percurso até voltar a meus lábios. Abracei seu pescoço, inclinando-me para trás, enquanto ele descia, passando sua língua pelo volume em meu sutiã.
Novamente ele segurou minhas pernas, levantando-me e dirigindo-se para a beirada da cama, onde me sentou delicadamente. Escorreguei as mãos de seus ombros para seu peito nu, outra vez sentindo seu coração acelerado. Desci um pouco mais até a braguilha de sua bermuda, ciente de seus olhos cravados em minhas mãos. Abri o zíper, puxando a peça para baixo até onde meus braços não mais alcançavam, e, então, lentamente ele avançou em minha direção, fazendo-me recuar para o centro da cama.
Deitei-me e em seguida ele se acomodou sobre mim. Seu corpo tocava todas as partes do meu, distribuindo calafrios a cada pequeno movimento. Com uma das mãos se apoiava na cama, enquanto a outra passeava pela minha cintura ao mesmo tempo em que seus lábios enfeitiçavam e prendiam os meus. Num momento sentia sua respiração em meu pescoço, e no outro, sentava em seu abdome. Com as mãos em meu quadril, empurrou-me para trás, inclinando-se para mim.
Suas mãos começaram a subir por minhas costas, acompanhando a linha de minha coluna até alcançar o feixe de meu sutiã. Abracei seu pescoço, aproximando-me ainda mais de seu corpo, e escondi meu rosto quando, com certa dificuldade, ele começou a abrir o feixe. Ele puxou ambas as alças para baixo de meu ombro, forçando-me a me afastar de seu calor. A peça escorregou por meus braços, sendo arremessada, logo após, para algum canto do quarto.
Senti, que, novamente, ele estava sobre mim. Cobri meus seios com as mãos quando ele começou a percorrer meu corpo com delirantes beijos, descendo cada vez mais até chegar à última parte de pele coberta que ainda me restava. Em poucos segundos, a pequena e delicada peça foi arrancada com os dentes, deixando-me totalmente nua, exposta.
Apertei as pernas, virando-me de bruços, sentindo uma tremenda onde de prazer quando senti sua língua entre as covinhas à base de minha espinha, subindo, logo após, até chegar aos meus ombros. Mordi o lábio – tão forte que a marca de meus dentes permaneceram ali, bom tempo depois -, e engoli um gemido, entalado há tempos em minha garganta.
Virei-me para ele, não sentindo mais tecido algum em seu corpo, apenas sua impecável pele pressionando meu corpo por todos os lados. Delicadamente passou a mão por minhas pernas, encaixando-se entre elas. Por um segundo de hesitação senti o medo tomar conta de mim, mas então, pela primeira vez, pude ver e contemplar seus olhos âmbar, iluminados por um raio do luar que passava pela cortina, agitada pelo vento ao atravessar a janela. Perdida em seu olhar, o medo se transformou em desejo e, então me entreguei, sendo banhada por aqueles olhos.
A pressão inicial entre minhas pernas não me incomodou, e aquele pequeno choque de dor logo tornou-se uma magnífica onda de prazer. Com movimentos suaves ele me levava ao paraíso, arrancando-me suspiros e gemidos impossíveis de conter.
Suas mãos abraçavam meu corpo, enquanto eu me agarrava a seus cabelos. Minha respiração descompassada se igualava à sua, preenchendo o ar com excitantes e eróticos ruídos.
Não sei ao certo quanto tempo, mas quando me dei conta estávamos ambos ofegantes, deitados lado a lado na imensa cama. O suor escorria por toda parte, aliviando o calor e refrescando-me toda vez que uma suave brisa entrava pela janela.
Adormeci.
Meu corpo estava cansado e era difícil respirar. Olhei para o lado contemplando aquela pequena criatura que, há pouco, me transformara num deus e fui incapaz de conter um sorriso. Ela dormia pesadamente, vez ou outra suspirando forte, ainda ofegante. Eu me sentia diferente, feliz.
Me levantei, com um pouco de dificuldade e tateei pelo escuro algo para vestir, dirigindo-me, logo após para o outro lado da cama, onde ela descansava. Cobri seu delicado corpo nu com um fino lençol - que encontrara por ali -, reprimindo mais uma vez o louco desejo, já saciado há poucos minutos.
As cortinas soltas dançavam a cada movimento do ar, parecendo me convidar para com elas, e na escuridão do lado de fora, o silêncio era acolhedor. Me sentei no parapeito da janela, olhando novamente para a fogueira já apagada, e como na primeira vez em que observei suas chamas, meus pensamentos viajaram até Ela. Agora, eu relembrava cada momento, cada toque, que há pouco, me transformara no homem mais feliz jamais conhecido.
Acordei pouco tempo depois, pois, de acordo com a luminosidade do cômodo, ainda não começara a clarear. Estendi o braço, à procura de algum vestígio de realidade naquele sonho, e, para minha tristeza, nada encontrei. Me sentei, sentindo o peso do cansaço sobre cada músculo e observei aquele quarto, já tão monótono.
Devagar, me obriguei a sair da cama, ainda um pouco dolorida e me surpreendi ao vê-lo sentado à janela, observando, daquela mesma forma de antes, a fogueira que pouco tempo atrás emitia mágicas chamas, rodeada de pessoas e incríveis histórias.
Perdido em seus pensamentos, apenas deu-se conta de minha presença quando entrelacei meus dedos em seu cabelo. Ele me olhou, fisgando hipnoticamente meus olhos, e sorriu. Como se possível, aquele sorriso o deixou ainda mais perfeito, podendo-se igualar a um dos sete arcanjos guardiões do paraíso. Era a primeira vez que o via sorrindo e isso me fez sentir especial: ele sorria para mim. Sorri também, contagiada.
O observei: ele usava apenas uma negra peça de roupa que cobria uma pequena fração de sua esplêndida forma, apoiando um dos braços sobre o joelho dobrado. Ele, então, se virou, encaixando-me entre suas pernas, diminuindo a distância entre nossos sedentos corpos.
Delirantemente me beijou, levando-me novamente aos céus, e logo depois, outra vez, me pegou no colo, dirigindo-se de volta para a cama. A dor já não me incomodava mais. Ele me deitou suavemente no macio colchão já enjoado de nossa presença e juntou-se a mim em seguida, abraçando-me às minhas costas. O cansaço me dominava impedindo-me de ficar acordada enquanto ele me ninava.
Quando definitivamente acordei, o sol já brilhava através das cortinas e, perdido no quarto vazio, o fantasma de um doce “Eu te amo” ainda acariciava meus ouvidos.
FIM.