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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Era Uma Vez na Rússia...



          Lá se vai o dia, trazendo para nós uma noite calma e preguiçosa. Através da janela da cozinha, observo a dança das amarelas folhas de outono, que no asfalto nu, substituem a brancura da neve, há muito desaparecida. 
          É dia 15 de novembro, e completamos 2 anos de casados, sendo assim, resolvi surpreendê-lo, cozinhando seu prato favorito.
          Nasci no interior da Rússia, numa cidadezinha obsoleta que não vale a pena citar o nome. Nos conhecemos numa loja de materiais, enquanto acompanhava meu pai numa de suas compras. Ele era o atendente do caixa.
          Começamos a nos encontrar escondidos e algumas semana depois resolvemos nos casar. Sei o que você deve estar pensando e a resposta é não. Não, eu não fiquei grávida. Nos mudamos para São Petersburgo, onde seus pais tinham uma casa em seu nome e cá estamos até hoje, e apesar de tudo, acho que posso dizer que somos felizes.

          Concentrada em minha receita, escutei o motor do carro estacionando na garagem, ouvi seus passos ao passar pela porta da frente e senti sua presença quando, silenciosamente, entrou na cozinha. Eu picava legumes na bancada da pia.
          Ele se se encostou à mesa, atrás de mim, soltando um alto e longo suspiro. Coloquei os legumes na panela sobre o fogão, ao lado da pia, e voltei minha atenção para os tomates prestes a serem picados, na minha frente.
          Percebi que ele se mexia desconfortavelmente atrás de mim, e logo senti o laço de meu avental sendo desfeito.
          - Nossa, isso tudo é pra mim? – perguntou ele, e eu não precisava olhá-lo, para saber que aquele sorrisinho debochado estava estampado em seu rosto. Sorri também, mas mantendo a compostura, inabalável... ou pelo menos foi o que eu pensei.
          Estava tudo correndo de acordo com plano quando, de repente, ele se aproximou de mim, apoiando-se na pia com os braços e me prendendo entre ele e o móvel. Abaixei a cabeça, rindo baixinho. Meu plano tinha ido por água abaixo e ele sabia disso. Corei quando ele sussurrou coisas em meu ouvido, coisas não muito apropriadas para se repetir aqui.
          Por um momento viajei em sua voz, apreciando e absorvendo a sensação que cada palavra sua me causava. Acordei bruscamente de meu devaneio ao sentir meu short descendo, agressivamente até meus tornozelos. Novamente sorri.
          Ele se ajoelhou atrás de mim, introduzindo sua mão por debaixo da camiseta e avental que ainda usava. Seu toque causava ondas de arrepios em todo o meu corpo enquanto passeavam sobre minha barriga. E nesse momento, eu já havia parado de picar coisas...
          Gemi ao sentir sua língua quente e urgente na base de minhas costas, e prendi a respiração, me camuflando de vermelho quando a Sra. Smolensky acenou para mim ao passar pela calçada. Não consegui acenar de volta, mas espero que ela interprete meu sorriso... é, melhor não.
          Estendi as mãos para fechar as pequenas cortinas da janela, mas fui impedida na metade do caminho quando ele, rapidamente, me girou para si. Perdi o fôlego.
          Olhei para ele parado lá, tão perto de mim, e, pela primeira vez naquele dia, contemplei seus lindos olhos cor de avelã pelos quais me apaixonei. O sorriso debochado havia sumido, dando lugar àquele doce e maravilhoso sorriso que faziam suas covinhas parecerem ainda mais lindas. Ele era meu e nós éramos perfeitos juntos.
          Ouvi minha tábua e faca favoritas caindo dentro da cuba da pia, juntamente com os tomates destinados a serem estraçalhados, e antes que eu pudesse olhar, já estava sentada na bancada ao lado. Não contive uma risadinha. Ele sabia que eu adorava aquilo.
          Ele puxou meu cabelo para trás, beijando meu pescoço nu, enquanto minha pele se arrepiava sob seus lábios. Abracei seus ombros puxando-o ainda mais para mim.
          Lá fora eu ouvia as crianças voltando da escola, passando pela calçada. Eu queria me preocupar com eles, mas naquele momento eu... o que eu estava dizendo mesmo?
          Seus beijos foram subindo, subindo até encontrar o calor de meus lábios. Suas mãos passeavam por minhas coxas e eu ainda sentia o short enroscado num de meus pés. Os beijos cessaram bruscamente quando ele tirou o avental pendurado em meu pescoço, arremessando-o para algum canto da cozinha, fazendo a peça em meu pé cair com o movimento.
          Passei as mãos em seu tórax e através da fina camisa senti sua pele se enrijecer de excitação. Comecei a desabotoar os botões. Sentia seus olhos em mim e a sensação de ser observada por ele aumentava ainda mais meu desejo.
          Segurei a peça pela gola puxando para trás pelos seus largos ombros. Arfando, ele me olhava e sorria maliciosamente. Senti todos os meus músculos se enrijecerem sob aquele olhar.
          Rapidamente, ele estendeu os braços por cima de meus ombros, alcançando as cortinas. Um enorme alívio tomou conta de mim quando vi que agora estavam fechadas. Finalmente, estávamos totalmente a sós.
          Ele me puxou para si, e agora estávamos colados num encaixe perfeito. 
         Senti sua excitação em minha barriga, gritando desesperadamente para se libertar. Os beijos iniciaram-se novamente subindo pelo meu pescoço até minha orelha, com pequenas mordiscadas no lóbulo e voltando, então, ao pescoço. Suas mãos passeavam pelas minhas pernas e aquele formigamento, já tão familiar, desceu pela minha espinha. Eu não aguentava mais.
          Minhas mãos, enroscadas em seus cabelos, percorreram seu peito nu até os quadris, encaixei-as no cós de sua calça, lentamente direcionando-os para sua braguilha, que abri o mais devagar possível, torturando-o. Sentia seu desejo pulsando, violentamente sob minhas mãos. Ele gemeu. Eu sorri.
          Em segundos minha roupa íntima já não estava onde deveria. Ele se afastou, retirando-a completamente, enquanto se despia do restante de suas roupas, voltando, decididamente, para sua posição. Segurando meus quadris com ambas as mãos, encaixou-se em mim.
          Fechei os olhos sorrindo, enquanto aquela sensação me preenchia. Ele começou a se movimentar, abafei um gemido. Suas mãos foram subindo pelas minhas costas sob a camiseta que eu ainda usava, uma de cada vez, puxando-me ainda mais para si.  Envolvi meus braços em seu pescoço, enterrando meu rosto em seu ombro. Inalei seu perfume e minha cabeça girou. Tudo aquilo era perfeito.
          Meus quadris pareciam ter vida própria e se mexiam num ritmo acelerado e constante. Ele suspirava em meu ouvido e vez ou outra um gemido escapava por entre seus lábios, fazendo-me delirar.
          Suas mãos estavam novamente em meus quadris, que moviam-se freneticamente, e ao apertar minha carne entre seus dedos, acelerando ainda mais seus movimentos, sabia que ele havia chego lá. Sorri.

          Estávamos ambos exaustos, com a respiração descompassada, e sorrindo. Seus olhos cor de avelã tinham um brilho novo: perverso, erótico. Fiquei hipnotizada.
          Desci da bancada feliz, embora minhas pernas ainda estivessem trêmulas. Virei-me para a janela e abri as pequenas cortinas de algodão. O vidro estava levemente embaçado.
          Lá fora, o frio era torturante, mas aqui dentro, o aquecedor trabalhava a todo vapor e estávamos os dois cobertos por uma fina camada de suor. Se bem que eu acho que o aquecedor não foi responsável por isso, mas tudo bem.
          Uma familiar luz brilhava sobre a rua escura, instantaneamente olhei para cima e me peguei sorrindo para uma majestosa lua cheia, que se mostrava para nós, bonita e charmosa após semanas sem sua companhia.
          O senti novamente atrás de mim, apoiando-se na pia com as mãos como há pouco havia feito. Descansou a cabeça em meu ombro, e olhando para a magnífica noite de outono, sussurrou em meu ouvido:
          - Feliz Aniversário!

FIM 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mil Pensamentos


     Já era de madrugada quando mil pensamentos atropelaram sua mente. Diferentes histórias, sentimentos mistos e variados. Se remexeu na cama, uma conversa. Virou de lado, sorrisos. Por fim se ajeitou calmamente, segredos revelados. Desistiu, enfim. Se levantou, olhando o relógio que marcava quase uma da manhã.
     Não importava se estava cansada ou não. Não importava o horário que tivesse ido deitar. Poderia até cochilar um pouco, mas ela sempre despertava no mesmo horário, com a cabeça cheia de flashes distintos. Um cochicho aqui, um reencontro ali. Paixões recolhidas, amizades quebradas, dores insuportáveis no coração e na alma.
     Tentava, sem sucesso, pôr tudo que vira no papel. Conseguia salvar e se lembrar de coisa ou outra, mas eram muitos momentos vislumbrados. Eram histórias alheias? Talvez. Contudo, vinham todas de seu subconsciente. Não que ela vivera ou presenciara tudo aquilo que lhe tirava o sono, longe disso.
     Pareciam recordações antigas que vieram à tona, ou até lembranças de um dia não muito distante. Poderia ser o que ela quisesse. Ela tinha o poder mudar e mexer no que bem entendesse, afinal, eram mil pensamentos, cada um deles pertencentes à ela e somente. E todos eram emoldurados por sua fértil imaginação, junto a seu coração sonhador.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Nos Confins da França



          “E lá estava eu: sentado à beira da lareira, com as recordações de um, não tão recente passado, em minhas mãos.
Era final de outubro e a neve decorada a imensa paisagem onde um dia já fora um lindo campo de lilases e brilhava sempre que a suave luz da lua cheia tocava as partículas de água congelada.
          A França sempre fora um lugar frio, desde a época em que as batalhas da Revolução me faziam rezar pela volta de um pai vivo. Eu tinha apenas 8 anos, e sonhava com o dia em que lutaria ao seu lado em uma dessas batalhas, mas isso nunca aconteceu.
          Eu era o mais velho de 5 filhos de uma típica família francesa e, portanto, fui eu a assumir o papel de chefe de família quando aquela carta fora entregue em nossa casa. Aquela carta que já me era tão familiar às mãos e que me fizera companhia todos esses anos, nesse quarto, sentado à beira dessa lareira.
          Após o segundo casamento de minha mãe, nos mudamos para o casarão de um diplomata inglês, no norte do país.
          Com 15 anos fui para uma faculdade em Blath cursar direito, e agora, após 4 anos, finalmente volto para casa com um diploma, inúmeros sonhos e várias expectativas depositadas em minhas escolhas... expectativas que sinto em dizer, não vieram de minha pessoa.”

          Larguei papel e caneta ao chão quando ouvi a maçaneta girar. Eram 3h da manhã e pela janela era impossível enxergar qualquer coisa num raio de um palmo de distância.
          Me levantei e fiquei ali, parado, no meio daquele quarto nada familiar, esperando pelo que, insistentemente, tentava atravessar a porta. Pisquei por um segundo e quando voltei a abrir os olhos, lá estava ela, perigosamente angelical como que na primeira vez em que a vi.
          Nos encaramos pelo que me pareceu horas até que , obstinadamente, ela caminhou até mim. Meus olhos, conectados aos delas, estavam cegos à qualquer coisa que acontecesse ao nosso redor, afinal, o que poderia ser mais importante que isso?
          Senti suas mãos em meus ombros e seus lábios colarem nos meus, num beijo alucinante. Minha respiração acelerou e, por um momento, tive a impressão de que meu coração parara de bater.
          O beijo foi interrompido cedo demais, apenas para que ela me arrancasse a alma com aqueles olhos cor de esmeralda, me olhando de um jeito sedutoramente meigo, com o rosto tão perto do meu que me quase me embriaguei com seu doce hálito.
          Já estava perdendo os sentidos quando ela, gentilmente traçou as finas linhas de meus lábios com a ponta dos dedos. Perdi a cabeça.
          Tomei sua boca na minha, entrelaçando meus braços à sua cintura num abraço cheio de desejo. Ela bruscamente se afastou, mas apenas para me empurrar para a cama malfeita atrás de mim. Caí sentado no macio colchão enquanto ela avançava sobre mim.
          Suas mãos abraçavam minha cintura ao mesmo tempo em que seus lábios cortavam a carne dos meus, num selvagem ritual de sensualidade.
          Senti minha camisa sendo puxada para cima e levantei os braços para facilitar sua retirada. Ela abraçou meu pescoço para se acomodar em meu colo, fazendo com que um arrepio percorressem meu corpo e quando ela me empurrou para o abraço aconchegante dos lençóis, segurei suas pernas, coladas em mim.
          Meu coração batia descontroladamente abaixo de sua palma e minhas mãos suavam frio em contraste com a pele de seu corpo.
          Suas mãos desceram até a braguilha de minha calça, e sabendo exatamente o que fazer, arrancaram-me a peça.
          Ela segurou a barra de seu vestido apenas com uma das mãos, enquanto encaixava-se em mim. Aquela sensação me dominou, inundando-me com uma imensa onda de prazer e satisfação. Sentei-me, abraçando sua cintura, diminuído a distância entre nossos corpos. Beijei seu pescoço nu e um suspiro escapou por entre seus lábios.
          Mais uma vez ela me empurrou para em meio aos travesseiros espalhados pela cama. Cobri meu rosto, tentando controlar a respiração, e então ela colocou as mãos em meu peito acelerando seus movimentos e tornando minha tarefa impossível.
          Apertei os olhos e coloquei as mãos em seus quadris, sentindo os violentos círculos que eles realizavam. Recobri a consciência e me inclinei novamente para ela, dessa vez, girando-a antes que me fizesse deitar outra vez. Me encaixei entre suas pernas e assumi totalmente o controle, arrancando-lhe, gemidos e suspiros que me arrepiavam e me faziam apossar-me cada vez mais daquele maravilhoso corpo.
          Meus movimentos ficaram cada vez mais rápidos, nossas respirações cada vez mais descompassadas e as sensações cada vez mais enlouquecedoras, e quando, finalmente, chegamos ao ápice, me sentia o homem mais feliz do mundo.
          Beijei-lhe os lábios com ternura e escorreguei para seu lado, a fim de passar o resto da noite abraçado com ela, que rapidamente se desvencilhou de meus braços, levantando-se e indo em direção à porta.
          Tentei impedi-la, chama-la pelo nome, mas percebi que não o sabia. E então ela desapareceu por entre a porta, tão subitamente como quando aparecera por ela, deixando-me ali, apenas com a lembrança de seu toque, naquele quarto de hotel qualquer, onde me apaixonei por uma misteriosa e desconhecida mulher.

FIM

Numa Noite Romana



          Acordei de repente e já era noite. O relógio marcava 21h e a escuridão reinava naquele quarto, onde tudo era tão surreal. O jet lag ainda me afetava, mesmo após três dias, e o calor escaldante judiava de meu corpo cansado, transformando-o numa mina de suor.
          Levantei-me do úmido emaranhado de lençóis que cobriam a imensa cama onde passara as últimas quatro horas, e, descalça, fui até a porta. Lá fora, a luminosidade contrastava com a escuridão do cômodo, dando ao ambiente uma incrível sensação de fantasia.
          Caminhei pelos corredores impregnados de antiga arquitetura romana - dos tempos em que os ludus eram governados pelos dominus - e por entre os pilares iluminados pela lua, que rodeavam o arcaico reservatório de água, o avistei observando a fogueira ao ar livre, naquele momento, cercada pelos outros visitantes daquele esplêndido lugar.
          Sua expressão era como sempre, fechada, servindo como um aviso de “não se aproxime” para qualquer tentativa de contato; seu corpo, rígido e definido dava a impressão de que era um dos extintos gladiadores que, há muito, ali foram treinados.
          Parei, e inconscientemente por longos segundos o contemplei. Tudo nele era convidativo, sua forma, sua postura, sua essência. Meu corpo já não suava por calor, e sim por vontade, necessidade...
          Perdi o controle de minhas ações, pois sem que me desse conta caminhava em sua direção. Minha longa saia agarrou-se em minhas pernas, transformando meus desleixados passos em delicados movimentos sensuais, e, sem que qualquer um de nós percebesse, eu estava lá, ao seu lado, segurando seu queixo com uma das mãos e entrelaçando meus lábios nos dele.
          Naquele momento, entre um ou dois fogos de artifício que explodiam em minha cabeça, esperava que ele, há qualquer segundo, se desvencilhasse de meu toque. Contrariando as leis do destino, me surpreendi ao sentir suas mãos me cercando em um abraço inesperado, passeando, timidamente, pelas minhas costas, vez ou outra encontrando pele desnuda, arrepiando-me em desejo.
          O beijo, cada vez mais intenso, levava minha mente a lugares inimagináveis, fazendo-me delirar. Descolei a saia levantando-a até os joelhos, enquanto sentia suas mãos descendo até a parte detrás de minhas coxas. Suspirei.
          Entrelacei meus dedos em seus cabelos quando ele me pegou no colo, ficando entre minhas pernas, empurrando-me, em seguida, até a parede mais próxima. Gemi com o leve impacto, fazendo-o perder o fôlego.
          Seus insaciáveis lábios trilhavam uma tênue linha entre minha boca e meu pescoço, tirando-me o ar sempre que esse caminho se completava. Algumas vezes, era capaz de sentir sua pesada respiração em meu ouvido, satisfazendo-me ainda mais.
          Me prendendo entre ele a parede, segurava-me apenas com uma das mãos, enquanto, com a outra, afastava meus cabelos do ombro, espalhando delirantes beijos por toda área.
          A temperatura aumentava sem parar, pois nossos corpos chocavam-se um contra o outro, numa deliciosa coreografia, formando, por debaixo de sua camiseta, gotículas de suor que, ao escorrerem até a cintura, eram esmagadas por minhas mãos. Ondas de calor como pequenos choques elétricos me faziam tremer de desejo, enquanto, em devaneio, ainda enlouquecia com seu toque.
          Apenas na metade do caminho, percebi que ele me carregava para algum lugar, dirigindo-se impecavelmente, por entre o labirinto de corredores, a uma das imensas portas de madeira maciça, em momento algum interrompendo seus beijos.
          Atravessamos a porta e, novamente, me vi naquele quarto, onde há pouco sonhava com este momento, onde há pouco sonhara com ele.
          Virando-me, me encostou outra vez contra a parede, girando a chave na fechadura da porta ao lado até ouvir o “click”. Ele percorria minhas coxas com as mãos, enquanto ainda me segurava por elas, fazendo-me apertar ainda mais os olhos, fechados desde o primeiro toque. O calor naquele escuro e fechado quarto era ainda mais intenso. Forcei uma das pernas para baixo e, então ele, delicadamente, me pôs no chão.
          Entre um beijo e outro, tomava fôlego, tendo o cuidado de me lembrar como respirava. Suas mãos me seguravam pela cintura, algumas vezes acariciando minhas costas suadas, fazendo-me tremer de vontade. Abracei seu largo tronco subindo e descendo a linha curva de sua coluna com as pontas dos dedos.
          Suavemente fui sendo preenchida de beijos do queixo aos ombros. Senti, novamente, aquela onda de calor que, dessa vez, subiu pelos meus braços, guiando-os cegamente por um caminho proibido. Coloquei as mãos em seu quadril, onde se encontrava a barra de sua camiseta, puxando-a, delicadamente, para cima. Parei de respirar.
          Mesmo com a pouca luminosidade, era possível enxergar os traços perfeitos de seu peito, decorado com algumas cicatrizes de um passado negro. Deixei a camiseta escapar por minhas mãos quando acariciei sua clavícula, descendo apenas um pouquinho para sentir seu coração acelerado. Seus movimentos tornaram-se ainda mais urgentes e sua boca mais insaciável quando ele me girou. Às minhas costas ele beijava meu pescoço enquanto segurava meus cabelos com uma das mãos. Com a outra, subia minha blusa, trilhando com o dedo, um caminho sobre minha pele, passando por meu umbigo e, logo depois, por entre meus seios. Eu segurava sua cabeça por sobre meus ombros, enquanto ele mordia minha orelha, aumentando ainda mais meu desejo.
          Virei-me para ele, que se ajoelhava a minha frente, puxando para cima minha saia e mordendo levemente minha coxa. Coloquei minhas mãos em seus ombros, apertando-os a cada deliciosa mordiscada. Ele então guiou a peça por minhas pernas, rumo ao chão. Logo após, levantou-se beijando cada parte de meu corpo durante o percurso até voltar a meus lábios. Abracei seu pescoço, inclinando-me para trás, enquanto ele descia, passando sua língua pelo volume em meu sutiã.
          Novamente ele segurou minhas pernas, levantando-me e dirigindo-se para a beirada da cama, onde me sentou delicadamente. Escorreguei as mãos de seus ombros para seu peito nu, outra vez sentindo seu coração acelerado. Desci um pouco mais até a braguilha de sua bermuda, ciente de seus olhos cravados em minhas mãos. Abri o zíper, puxando a peça para baixo até onde meus braços não mais alcançavam, e, então, lentamente ele avançou em minha direção, fazendo-me recuar para o centro da cama.
          Deitei-me e em seguida ele se acomodou sobre mim. Seu corpo tocava todas as partes do meu, distribuindo calafrios a cada pequeno movimento. Com uma das mãos se apoiava na cama, enquanto a outra passeava pela minha cintura ao mesmo tempo em que seus lábios enfeitiçavam e prendiam os meus. Num momento sentia sua respiração em meu pescoço, e no outro, sentava em seu abdome. Com as mãos em meu quadril, empurrou-me para trás, inclinando-se para mim.
          Suas mãos começaram a subir por minhas costas, acompanhando a linha de minha coluna até alcançar o feixe de meu sutiã. Abracei seu pescoço, aproximando-me ainda mais de seu corpo, e escondi meu rosto quando, com certa dificuldade, ele começou a abrir o feixe.  Ele puxou ambas as alças para baixo de meu ombro, forçando-me a me afastar de seu calor. A peça escorregou por meus braços, sendo arremessada, logo após, para algum canto do quarto.
          Senti, que, novamente, ele estava sobre mim. Cobri meus seios com as mãos quando ele começou a percorrer meu corpo com delirantes beijos, descendo cada vez mais até chegar à última parte de pele coberta que ainda me restava. Em poucos segundos, a pequena e delicada peça foi arrancada com os dentes, deixando-me totalmente nua, exposta.
          Apertei as pernas, virando-me de bruços, sentindo uma tremenda onde de prazer quando senti sua língua entre as covinhas à base de minha espinha, subindo, logo após, até chegar aos meus ombros. Mordi o lábio – tão forte que a marca de meus dentes permaneceram ali, bom tempo depois -, e engoli um gemido, entalado há tempos em minha garganta.
          Virei-me para ele, não sentindo mais tecido algum em seu corpo, apenas sua impecável pele pressionando meu corpo por todos os lados. Delicadamente passou a mão por minhas pernas, encaixando-se entre elas. Por um segundo de hesitação senti o medo tomar conta de mim, mas então, pela primeira vez, pude ver e contemplar seus olhos âmbar, iluminados por um raio do luar que passava pela cortina, agitada pelo vento ao atravessar a janela. Perdida em seu olhar, o medo se transformou em desejo e, então me entreguei, sendo banhada por aqueles olhos.
          A pressão inicial entre minhas pernas não me incomodou, e aquele pequeno choque de dor logo tornou-se uma magnífica onda de prazer. Com movimentos suaves ele me levava ao paraíso, arrancando-me suspiros e gemidos impossíveis de conter.
          Suas mãos abraçavam meu corpo, enquanto eu me agarrava a seus cabelos. Minha respiração descompassada se igualava à sua, preenchendo o ar com excitantes e eróticos ruídos.
Não sei ao certo quanto tempo, mas quando me dei conta estávamos ambos ofegantes, deitados lado a lado na imensa cama. O suor escorria por toda parte, aliviando o calor e refrescando-me toda vez que uma suave brisa entrava pela janela.
          Adormeci.

          Meu corpo estava cansado e era difícil respirar. Olhei para o lado contemplando aquela pequena criatura que, há pouco, me transformara num deus e fui incapaz de conter um sorriso. Ela dormia pesadamente, vez ou outra suspirando forte, ainda ofegante. Eu me sentia diferente, feliz.
          Me levantei, com um pouco de dificuldade e tateei pelo escuro algo para vestir, dirigindo-me, logo após para o outro lado da cama, onde ela descansava. Cobri seu delicado corpo nu com um fino lençol - que encontrara por ali -, reprimindo mais uma vez o louco desejo, já saciado há poucos minutos.
          As cortinas soltas dançavam a cada movimento do ar, parecendo me convidar para com elas, e na escuridão do lado de fora, o silêncio era acolhedor. Me sentei no parapeito da janela, olhando novamente para a fogueira já apagada, e como na primeira vez em que observei suas chamas, meus pensamentos viajaram até Ela. Agora, eu relembrava cada momento, cada toque, que há pouco, me transformara no homem mais feliz jamais conhecido.

          Acordei pouco tempo depois, pois, de acordo com a luminosidade do cômodo, ainda não começara a clarear. Estendi o braço, à procura de algum vestígio de realidade naquele sonho, e, para minha tristeza, nada encontrei. Me sentei, sentindo o peso do cansaço sobre cada músculo e observei aquele quarto, já tão monótono.
          Devagar, me obriguei a sair da cama, ainda um pouco dolorida e me surpreendi ao vê-lo sentado à janela, observando, daquela mesma forma de antes, a fogueira que pouco tempo atrás emitia mágicas chamas, rodeada de pessoas e incríveis histórias.
          Perdido em seus pensamentos, apenas deu-se conta de minha presença quando entrelacei meus dedos em seu cabelo. Ele me olhou, fisgando hipnoticamente meus olhos, e sorriu. Como se possível, aquele sorriso o deixou ainda mais perfeito, podendo-se igualar a um dos sete arcanjos guardiões do paraíso. Era a primeira vez que o via sorrindo e isso me fez sentir especial: ele sorria para mim. Sorri também, contagiada.
          O observei: ele usava apenas uma negra peça de roupa que cobria uma pequena fração de sua esplêndida forma, apoiando um dos braços sobre o joelho dobrado. Ele, então, se virou, encaixando-me entre suas pernas, diminuindo a distância entre nossos sedentos corpos.
          Delirantemente me beijou, levando-me novamente aos céus, e logo depois, outra vez, me pegou no colo, dirigindo-se de volta para a cama. A dor já não me incomodava mais. Ele me deitou suavemente no macio colchão já enjoado de nossa presença e juntou-se a mim em seguida, abraçando-me às minhas costas. O cansaço me dominava impedindo-me de ficar acordada enquanto ele me ninava.
          Quando definitivamente acordei, o sol já brilhava através das cortinas e, perdido no quarto vazio, o fantasma de um doce “Eu te amo” ainda acariciava meus ouvidos.

FIM.